terça-feira, 10 de junho de 2008

A Raça




Hoje é dia de Portugal, de Camões e das Comunidades portuguesas.
Na linguagem do estado novo, do Carlos Tê e do actual presidente da república é dia da nossa raça.

E depois?
O que é que tem de mal dizer que é dia da raça?

Porque faz levantar da campa as ideias e atitudes da ditadura, dizem os comunistas e bloquistas e outros istas de esquerda.
É uma expressão retrógrada, xenófoba e nada condizente com a atitude europeísta actual, dizem outros que nem sei se terão algum prefixo ao “ista” habitual.

Quanto a mim, tanto me faz.
Acho que com um café, um cigarro mal fumado à porta de um snack e um polícia a passar uma multa ao nosso carro enquanto um larápio assalta uma velhinha mesmo em frente. Com as câmaras que nos vigiam dia e noite, com as proibições e investidas diárias contra a nossa intimidade, somos capazes de arranjar argumentos que defendam ou que contrariem uns e outros.

Nós somos assim.
Devemos ter um gene qualquer que nos faz ser portadores de uma coisa a que eu chamo “carneirismo”.

Eu explico.
O carneirismo é a característica que demonstra e explica a arte e o engenho de se ir atrás dos outros mesmo que não se saiba porquê, nem para onde se vai.
Exemplos não faltam no nosso querido país, este rectângulo habitado maioritariamente por exemplares da nossa raça.
O português carneirista é um ser com pêlo na venta, nas pernas, na cara, aliás creio que não deve haver célula da cútis que não tenha bem hasteado um grande e grosso pêlo, armado em bandeira nacional em dia de feriado nacional.

O exemplar da nossa raça, tem uma barriga tão grande, que não deve frequentar nenhuma área hospitalar de obstetrícia, não vá ser levado em maca para uma cesariana de urgência.
Por fora pouco mais há para falar sobre estes elementos da raça, a não ser a indumentária característica em dias de folga, fins-de-semana e feriados. São fatos de treino de cores tão garridas que, para os encarar, quase é necessário um par de óculos dos que se utilizam nos eclipses.
Há relatos que nos indicam também alguns avistamentos destes seres, com calças corsárias muito largas e camisolas, tipo T3, que quase poderiam albergar duas ou três pessoas ao mesmo tempo.

O raçudo português carneirista tem um intelecto muito desenvolvido e, normalmente, consegue abstrair-se de qualquer pensamento ou raciocínio que envolva mais do que sexo, carros, cerveja ou futebol, mas sempre em pensamentos separados. Para estas criaturas não é humanamente possível misturar assuntos, se é sexo é sexo até ao fim, e consegue-se perceber que é este o pensamento, quando se observam uns fios de baba a escorrer pelos cantos da boca, umas bochechas avermelhadas e o discorrer de frases características como: “Belas pernas! A que horas abrem?”.

O carneirista se ouve um outro a dizer que o pau é pedra, jura logo que também concorda e “Fique ceguinho se não é assim”.
O português caneirista gosta muito de políticos e de festas da campanha eleitoral, onde aparece sempre de copo cheio e bandeira içada na outra mão.
São atletas e desenvolveram o perfeito equilíbrio, pois por mais abanões que façam e que sofram, conseguem manter o néctar das uvas dentro do copo sem entornar nem uma gota.
Não se importam com ideologias ou cores partidárias.
Se lhes derem um copo cheio e uma fêvera (seja de que tipo for), aguentam duas ou três horas a gritar slogans e a berrar muito nos directos da televisão.

Penso que foi este género humano a fonte inspiradora de grandes figuras que populam as realizações cinematográficas mundiais como, por exemplo, o Shrek.

Mais se poderia relatar sobre a maneira de estar, ser e pensar destes seres da nossa raça, que são a prova viva que a raça existe, está viva e recomenda-se.
Tivemos de esperar mais de trinta anos para que estes factos fossem reconhecidos ao mais alto nível nas palavras do presidente desta nação.
Finalmente foram.

Aqui deixo pois a minha concordância com o mais alto magistrado e sublinho a mesquinhez de uma certa camada social que teima em varrer para debaixo do tapete o nosso verdadeiro DNA.
Viva a raça portuguesa
Viva Portugal.
Acho eu...

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