quinta-feira, 19 de junho de 2008

Grande seca...


Há pouco.
Muito “há pouco”.
Tive a oportunidade de assistir a um teatro dos mais novos.
Não! Não estou a falar da arte nova, da nova filosofia do teatro, dum tipo sozinho no palco durante três horas a narrar o inenarrável. Não! Nada disso.
Estou a falar de um teatro feito por crianças na escola.

Aquelas cenas do fim de ano a que todos os pais têm de assistir pelo menos uma vez na vida. É, assim, como ir a Meca para os muçulmanos.
Sabem que mais?
Meu Deus!..
Coitadas das criancinhas.

Eu penso que quem tem filhos, tem, por norma, gosto neles, e quer que eles tenham o melhor, que comam o melhor, que durmam o melhor, que falem o melhor, que brinquem com o melhor, e por aí fora....
Mas o pior de tudo é que, quem tem filhos, teima em ver no seu rebento o melhor de todos.

É natural, defendem todos.
Mas temos de pensar que o nosso filho pode não ter assim tanto jeito para coisa.
Uns nascem para serem jogadores de futebol, outros para serem primeiros ministros, outros até para serem médicos e doutores de qualquer coisa, e outros para não serem nada disto.
Já pensaram que o vosso filho pode querer ser apenas um funcionário de uma lavandaria ou um empregado de café?
E não ter jeitinho nenhum para actor ou bailarino.
Como diz o povo cada um é para o que nasce.

Vamos, de uma vez por todas, acabar com o estúpido vício dos teatrinhos e espectáculos escolares.
É que já não se aguenta!
E depois os finais de ano lectivo são sempre assim, uma seca.

São as criancinhas, quase em estado letárgico, a tentar articular uma mão cheia de frases, sem vírgulas ou pontos finais, que resultam em trinta e tal minutos de tal maneira enfadonhos, que os filmes do Oliveira ao pé disto, são autênticas obras cinematográficas de acção.
Mas os pais acham piada.
A quê?!
Só se for às cores?
As vozes e o texto quase não se ouvem, ninguém tem a noção que sem microfones e amplificação é difícil fazer-se ouvir numa sala, com pais, irmãos, avós, tios, professores, e outros aos berros durante toda a peça.
Ok! Pelo menos vê-se, dizem vocês.
Não! Também não é verdade.
Ninguém consegue ver nada com tantos paizinhos à frente do palco a filmar e a tirar fotografias, com os meninos a dizer adeus em plena actuação.

E eu nem máquina trouxe, para não ter depois de massacrar alguém com o filme ou com as fotos do pequeno. Para não fazer aos outros o que não gosto que me façam a mim.
“Ó Rute! Ó Rute, tu não ouves? Vira-te para aqui, p’ra te tirar uma foto, carago!”
A Rute vira-se e entra um professor em palco, muito aflito, a tentar desviar a actriz da tentação da foto para o papá.
Estão a imaginar se isto acontecesse, por exemplo no Rivoli, a meio de um Brecht, um parente dizer: "Ó Eunice Munhoz, importas-te de te virar um bocadinho para aqui? E, vá lá, um, dois, três, e...olha o passarinho".

Os pais ainda não compreenderam que não, não gostamos nada de ver uma hora e tal de filme com a sua criancinha a brincar no quarto com o mesmo boneco, ou com as festas de final de ano lectivo.
Tomem isto como uma regra para manter uma amizade.
Ninguém aguenta os filmes dos aniverários, festas, férias, natal e casamentos.
Nós só dizemos que sim, porque fica mal rejeitar. Entendem?

Tem calma Victor já só faltam mais dois ou três quadros, até aparecer a turma do teu filho.
-“É que isto está demais, já nem se respira aqui. Isto deve fazer mal aos pequenitos, não?” Pergunto eu na minha ingenuidade.
-“Ó senhor tenha mas é juizinho, não vê que isto é uma festa?”
Diz uma senhora quase a mandar-me um estalo com aqueles sete quilos de mão.
“Pois, pois....uma festa.”

Sabem que eu descobri que demora mais a passagem de uma turma para outra no palco, do que aquilo que eles realmente lá vão fazer?
Eu explico.
O primeiro ano acabou de se apresentar.
São quinze minutos contados e contadinhos até que o segundo ano suba ao palco, para lá estar quatro minutitos a dançar uma dança esquisita. Deve ser destas novas coreografias com movimentos individualistas, acho eu, pelo menos nenhum deles consegue imitar a professora, que em gestos cujas dimensões excedem o natural tenta, a todo o custo, marcar o ritmo e os passos da música.

E o puto que nunca mais chega.
“Ainda faltará muito?” Pergunto eu.
“Não sei o programa já foi todo alterado”.

Ah!?
Isto tem um programa?!..
Quer dizer que houve alguém que planeou isto tudo?
Quer dizer que tudo isto é de propósito?
Afinal, sou só eu!

Desculpem eu é que não entendo nada de arte infantil.
Ia sugerir para o ano uma sardinhada, caldo verde e umas bejecas para encerrar o ano lectivo.
Mas acho melhor não.
Afinal como é que os pais iam encher as cassetes de vídeo, que nunca ninguém vai ver, e os cartões das máquinas fotográficas?

5 comentários:

NI disse...

Não sejas assim.

Logo tu que tens um orgulho infinito nos teus filhos.

Logo tu que ficas com um brilho nos olhos quando és convidado para apresentar esses espectáculos.

Logo tu que na tal peça que referiste tiveste a melhor sonoplasta do mundo ao teu lado, eheheheheh (foi bom recordar os nossos velhos tempos da rádio).


Bjs

Victor Cardoso disse...

Pois mas essa a que te referes foi só uma inspiração.
As festas a que me refiro, são mesmo uma seca.

Anónimo disse...

Estou consigo, eu também apanho dessas secas todos os nos...hehehehhe

Anónimo disse...

Ohhhh eu gosto tanto das festinhas de escola. E que trabalhão dão.
Sou professora e nem imagina como é ter de organizar meninos e papás...

Anónimo disse...

A minha deste ano já foi...ufa!!!!
:))