quarta-feira, 4 de junho de 2008

Beijinhos



As ideias mais felizes do mundo, normalmente, são também as mais criticadas e, permitam-me, as mais malucas pelo menos no tempo em que são proferidas.
Isso acontece aos melhores.
Não quero com isto chamar maluco a ninguém.
Foi assim com um número bastante alargado dos melhores exemplares da nossa espécie. E depois, pumba! Com o tempo provou-se que tinham razão.
São, como dizem os nossos jovenzinhos, seres muito à frente. Estão a ver a cena? Tipo, sei lá, seres muito à frente. Mas tótil! Assim, tipo, bués.

É curiosa esta maneira de falar, só me irrita um bocadinho porque o corrector do “microsoft word” está sempre a assinalar erros ortográficos.
Mas paciência.

É a evolução, dizem uns. É uma merda de educação, dizem os outros que ainda vivem no tempo em que a palavra pesava um pouco mais que um acto.
Acho que a língua é uma coisa viva e por isso dinâmica (não, seus marotos...já estavam a pensar que eu ia falar no tão polémico acordo ortográfico).
Não.
Não vou agora. Falo um pouco mais à frente quando não tiver temas suficientemente inócuos para abordar.

O que eu quero focar neste momento é mesmo o que se faz com a língua – o órgão que fica situado na cavidade bocal e que serve para muitas coisas, entre as quais os famosos linguados, não o peixe pleuronecto de corpo achatado, muito apreciado e vulgar na costa de Portugal, mas beijos de fama mundial celebrizados, publicitados e amplificados no nosso país através das diversas telenovelas e filmes estrangeiros de cariz muito, pouco ou mesmo nada duvidoso.

Já pensaram que o beijo foi das coisas que também evoluiu nestes últimos, talvez, 20 ou 30 anos?
É isso, o beijo.
Tanto falamos dele, tantos damos, ou pelo menos devemos dar - senão mais vale olhar para o espelho ou ir a correr ao psicólogo mais próximo ou então ir ao dentista.
Mas será que alguém já parou para pensar nele? Não no dentista...no beijo!
Creio que não.

Pensem lá como seria imaginar certas pessoas a beijarem-se?
É esquisito imaginar o Sr. Presidente a introduzir a sua língua na boca da primeira dama por, pelo menos, 2 ou 3 minutos, ou, por exemplo, Mário Soares oscular longamente Maria Barroso.
Seria também estranho imaginar num longo beijo, Luís Filipe Meneses, Manuela Ferreira Leite, Victor Constâncio, Francisco Louçã, Zita Seabra, Jaime Gama ou mesmo Jerónimo de Sousa.
Já mais fácil é imaginar, Pedro Santana Lopes, Ana Drago, Nuno Melo entre outros.
Imaginem lá, os vossos avós, ou se conseguirem ir mais atrás vão.
...
...
Estão a ver?!
Devia ser uma coisa tipo Pepe Rápido, a coisa, quando ia, não ia além do toca e foge.
O beijo não seria mais do que o poisar levemente os lábios nalguma pessoa normalmente de sexo diferente.

Agora não, isto demora o tempo que demora, tem o seu ritmo, a sua onda.
Tudo se beija, em todo o lado, a todas as horas, e mesmo sem reparar no sexo, ou, às vezes, até no que se está a beijar.
Como estão a ver o beijo evoluiu mas continua, a ser aquela cena romântica, com que um tipo brinda uma dama, e cria aquele ambiente onde, normalmente os nossos jovenzinhos ficam com cara de parvos e todos vermelhos com as borbulhas quase a rebentar.

Serve isto tudo, meus amigos, para dizer que eu atribuo importância ao beijo.
Não que tenha personalidade jurídica, mas, para mim, é quase uma entidade no edifício do amor (uau que lindo e tão rasca).
Por isso não acho bem andarem a dar-se beijos por aí a torto e a direito. O beijo está hoje pelas ruas da amargura, dá-se beijos por tudo e por nada.
Vai um gajo na rua e: “Hei! Olá! Toma lá beijnho.”
Vem um tipo do hipermerado, cheio de sacos, com os putos a berrar, a deixar cair a chave do carro e de repente aparece aquela pessoa que não víamos há séculos, e não nos importávamos de continuar a não ver, e pimba – lá vai beijo.

E pior pior, é o facto de agora todos os jogadores de futebol darem beijos uns aos outros quando são substituídos.
Mas eles dizem o quê?!
“- Olha pá fico imensamente feliz por te ver a entrar em campo, e ainda por cima vais substituir-me, és mesmo romântico, toma lá beijinho.”
“- Oh pá! Eu não estava nada à espera, foi uma coisa que o mister decidiu, e eu fiquei muito sensibilizado, toma lá beijinho.”

Isto é alguma coisa?!
Bem, se calhar, sou eu.
Se calhar, estes são dos tais que estão muito à frente. Só que devem estar mesmo muito porque assim, pelo menos eu, não os vejo.
Ora, como teima em dizer uma pessoa amiga, poupem-me.
Ah! Beijinhos para todos.

3 comentários:

NI disse...

Ahahahahahahah.


Bem precisava de me rir hoje.

Olha,não sei se te consola ou não mas também eu dou grande importância ao beijo e, tens toda a razão, não consigo maginar algumas pessoas a "oscular longamente" (?!).

Bjs

NI disse...

"imaginar"

Victor Cardoso disse...

Eu sabia que não era só eu a pensar assim.hehehe
É bom saber que afinal há alguém que lê isto.