segunda-feira, 30 de junho de 2008

O Claxon


Eu sei que está toda a gente maluca e feliz com a vitória de Espanha no europeu, no fundo quando um vizinho ganha, nós também achamos que temos o direito de ganhar. Nem que seja um pouquinho.
Isto, claro, não se aplicará se o vizinho morar ao nosso lado e lhe sair o euromilhões.
Apesar de continuarmos a pensar o mesmo, ele “dá de frosques”, e nunca mais ninguém lhe põe a vista em cima.

Mas como a Espanha não pode fugir, todos saltámos e pulámos, batemos palmas e até ouvi buzinadelas (creio que em castelhano) em diversas ruas do Porto e arredores.

Buzinar em castelhano não é para todos!
É uma arte que se aprende com o tempo.
Quando se buzina em português a mão fica, normalmente, colada ao claxon durante 2 minutos, depois é necessário colocar a cabeça fora da janela do condutor, fazer uma cara de troglodita e emitir, com a maior força possível, dois ou três berros, podendo acompanhá-los com o dedo médio em riste e os outros todos encolhidos.
Buzinar em castelhano apenas implica um ligeiro toque no volante, um sorriso e um V de vitória com os dedos, indicador e médio, erguidos e os outros encolhidos.

Há também algumas diferenças entre a semântica do acto, de quem buzina em português ou em castelhano.
O “buzinador” castelhano utiliza esta funcionalidade do carro para comemorar.
O “buzinador” português, para igual proveito, raramente o faz fora da cidade do Porto.
O ruído do claxon nacional é, preferencialmente, usado como a arma de protesto contra o aumento dos combustíveis ou contra os peões que atravessam a rodovia na passadeira.

Porque será?

sábado, 28 de junho de 2008

Estupidamente Gelada


Está um calor que não se aguenta – Facto
E tu aí, a olhar para mim assim – Facto
...
...
...
Já sei!
E se te afagasse, limpando cada gota da tua pele com os meus dedos?
Cumprindo um ritual de passeio das minhas mãos no teu corpo.
Cada dedo a desbravar um trilho diferente, desnorteado sobre ti.

E se eu te experimentasse?
Realizando o meu desígnio de macho, se te abrisse com a delicadeza e a sensualidade que proclamas, com a fúria e a vontade que reclamas?

Que dizias?
Se te aproximasse os meu lábios, mordidos pelo desejo, sedento de ti?
Que dirias?
Se te sugasse a verdade num beijo demorado?
Que dizias?

Desejo a tua resposta.
- Bebe-me sou tua!
E eu, como cavalo que avança pela planície, vou sobre ti.
O desejo cumpre-se, e a satisfação rebenta-me o corpo, como se um rio de água gelada me percorresse, desde as mais cavernosas entranhas até ao mais pequeno poro da minha pele.

Gosto de Ti Assim!
“Estupidamente gelada!”

sexta-feira, 27 de junho de 2008

A Miúda da Roupinha Amarela

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Então?
Vamos ficar assim, sem dizer nada?
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Sabes?
Olha!
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Fala tu.
Não. Diz tu primeiro.
Não, não! Podes dizer...
Nada. Só te ia perguntar sobre aquela tua amiga...a da roupinha amarela.
Da roupinha amarela. Até parece que a miúda te fez algum mal.
Não, mas aquele arzinho arrogante, aquele olhar insolente, e depois fala como uma catatua, cácá cácá cácá cácá...
Fez-te ciúmes, foi o que foi.
Ciúmes?! Tás tolo
Então? O que tem a miúda que te incomode tanto? Ah, já sei! Chegou e foi o centro da festa, o centro das atenções, e isto basta para colocar qualquer mulher em estado de sítio.
Reparaste como ela se fazia a todos?
Se fazia!? A todos? Não, é impressão tua.
Mulheres como ela conheço eu, e à distância!
.
.
Eu sempre disse que o Carlos não se aguentava muito tempo casado com a Matilde.
Quem?
Ele é um mulherengo, ele tem o quê? Quarenta e oito, está na idade em que pensa que ainda é um play boy . Coitada da Matilde, deixou o Fernando por causa dele e olha no que deu. O pai dela é que tinha razão.
O Pai?
Sim, o Francisco acho que é farmacêutico, ou bancário, não sei bem. Sei é que ele bem a avisou para ter cuidado com o Carlos. Nunca gostou dele. Sabes? Ainda bem que não tinham filhos.
Ai não tinham?
Mas a culpa não é deles, é dessas que andam para aí a meter-se com uns e com outros.
Quais?
Essas como a tua amiga de roupinha amarela.
Pronto! Já faltava. Tinhas de voltar ao assunto, é mais forte que tu, não resistes a uma boa intrigazita.
Chama-lhe intriga, chama. Mas eu bem sei o que vejo e, no que toca a mulheres, tirei o mestrado há muito, meu amigo.
Tiraste o quê?
Oh pá! És burro ou fazes-te?
Desculpa, não te acompanhei.
Pois não, vocês são todos iguais...
Somos?
Ouve lá! Quando é que vais dar atenção ao que te digo?
Estava aqui a pensar...
A pensar? A pensar em quê? Na miúda, claro.
Na miúda? Não.
Estava a pensar há quanto tempo nos conhecemos.
Sei lá! Há cinco dias.
Pois...Acho que ainda é pouco tempo para conseguir acompanhar esse teu modo de pensar.
Vais-te embora, assim? Sem um beijo sem nada?
Adeus semana, até para o ano...

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Sol


Mais um dia e finalmente o calor.
Que bom!
Acho que o calor é bom para a criação, para a agricultura e também para arejar as ideias.
Tenho a certeza que o calor nos deixa mais alegres e com outra vontade de enfrentar os problemas.

E aqui vou eu no meu carrinho, a sentir o vento no rosto, com os meus caracóis a agarrarem-se ao meio frasco de gel gasto, para não saírem disparados.
O sol é portador de sorrisos.
O poder do sol apaga as más disposições, aloura as cabeças e alisa-nos o modo.
Com o sol chegam as roupas leves, a cerveja na esplanada onde se pode fumar, e, sobretudo, aquele decote atrevido que teima em esconder a alça do soutien.
Eu olho-te como se fosse a primeira vez.
O sol é o mel de Deus.
Une as almas, rebenta as barreiras, escancara-te o corpo e deixa-me assim…

terça-feira, 24 de junho de 2008

Grande Espadinha



Foi o grande S.João e a minha festinha foi particular com muitos amigos e amigas, com sardinhada, cerveja, e tudo o que não envergonhe este evento regional, digno de representar o país na liga dos campeões da festas tradicionais.

Mas não sei!
Será que o facto de o Dr. Rui Rio (presidente da Câmara do Porto) ter convidado o Dr. António Costa (presidente da Câmara de Lisboa) pode ser considerado tentativa de corrupção e atirar o Porto para fora da competição, caso o Sto. António apresente queixa na UEFA (União Europeia das Festas Amadoras)?

Não sei, mas também não interessa nada.
Para o ano há mais, porque este povo tem bichos de carpinteiro e não fica quieto.
Mas, confesso, que em algumas situações até devia.

Uma das grandes inovações deste ano na festinha onde eu fui, foi o karaoke!
Já estou a imaginar-vos a pensar às gargalhadas: “Uau! O karaoke! Que inovação! Helloooo isso já foi inventado há séculos, etc e tal...”
Pois, mas nesta festinha respeitamos muito a tradição, e a tecnologia só entra depois de ter apresentado um pedido e ter estado em consideração superior durante um bom par de meses.
A nossa festinha é burocrática.

Este ano foi bom em novidades no que diz respeito ao S.João.
Aliás, acho que esta é a maior festa do mundo.
Do mundo! (lá estão vocês)
Sim claro, o S.João colocou grande parte da china a trabalhar.
Eram "néons" de todas as cores, martelinhos com "néons", e outras tralhas do género.
Este ano, o S. João foi "néon".
Penso que os manjericos não são chineses (mas não garanto).

Mas o que eu queria falar tem a ver com o karaoke.
O que nos leva a fazer aquelas figurinhas no karaoke?
É a nossa vontade de sermos estrelas, ou, pelo contrário, de provarmos a todos que nunca lá chegaremos?
Ou pior! Será para mostrar a todos que estamos com uma "piela" daquelas, ainda por cima "néon"?
Não sei.
Mas divirto-me imenso especialmente com aqueles que fecham muito os olhos, põem a mão livre do microfone sobre o coração, e gritam feito tarzans nos acordes da música do Vítor Espadinha.
Viva o São Vítor Espadinha!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Bendita Tradição


Mais uma...


Sabem uma coisa que eu reparei, neste fim-de-semana?
Claro que não.
Ainda não contei.
Mas vou contar.

Este fim-de-semana, cheguei à conclusão de que há, no nosso país, uma classe trabalhadora capaz de embarrilar mais o trânsito do que qualquer manifestação de camionistas, comunistas, socialistas, sindicalistas ou outros “istas”.

O pior é que quando me dei conta, lá comecei a espreitar e a tentar ler o que diziam os cartazes, mas estava difícil.

Era grande a fileira de carros que estavam à minha frente e os cartazes muito lá ao fundo.
“Bem, isto agora protesta-se todos os dias, já ninguém respeita o fim-de-semana!” pensei enquanto dava uma golada na água escaldante da garrafa esquecida no tabelier.
A espera era longa, daquelas que fazem inveja aos caracóis.
A pouco, muito a pouco, lá íamos avançando sempre em primeira, meter a segunda velocidade era um privilégio tão grande como uma bejeca geladinha naquele dia tão quente.
Irra!
“Tanta chuva, e hoje esta caloraça. Mais valia que chovesse, ao menos, acho que à chuva as manifestações são mais rápidas. Não que se acabe o problema, o que não se pode é deixar o problema dar-nos cabo dos ossos.” continuei eu a pensar...

- Espera! Já consigo ler qualquer coisa nos cartazes.
- E? Perguntam-me, a mulher e as adolescentes do banco de trás.
- Espera!
- Diz, diz....diz...
- Vá lá! Imploram elas impacientes.

No cartaz podia-se ler em bom português:

“CEREIJA DA BÔUA A 2,5€ O KILO”

sábado, 21 de junho de 2008

Portugal allez allez!...

Pode até ser só para chatear, mas apeteceu-me repor este artigo escrito precisamente há um mês.
Lembram-se?


Hoje fiquei a pensar que nós somos mesmo pobrezinhos!
Acho que até deviamos mudar o nome daquela coisa em Coimbra para: "Portugal dos pobrezitos".
Tão pobrezinhos tão pobrezinhos, que me custa até escrever sobre isto.

Eu sei que o futebol arrasta massas (na china deve arrastar arroz), mas continuemos, eu também sou um daqueles que gosta do seu futebolzinho. Tenho um clube de coração, de paixão mesmo, e às vezes até vou assistir a um ou outro joguito no estádio.
Agora não sou aqueles a quem se possa perguntar qual o resultado do ano passado, do mês passado ou até da semana passada. Não vale a pena, mas deve ser de mim.
Como costumo dizer a quem me rodeia, não tenho “disco” suficiente para armazenar informação inútil.

Por isso o futebol para mim é assim como uma "bejeca", aprecia-se imenso enquanto se bebe mas depois disso, nada!
A coisa fica por ali, é assim como aquelas paixões do "foi bom enquanto durou", pronto agora vamos cada um pelo nosso caminho.
Penso que já entenderam a minha posição futebolística.
Tanta letra para dizer o quê?

Nada mais, nada menos que comentar as imagens de gente a atropelar-se, a polícia a bater com os bastões nas pessoas que, em Viseu, foram "fazer de tapete" para a selecção passar.
Eu sei que a selecção é o clube nacional (ou de Scolari mas isso é outra patranha), eu sei que esta coisa do Euro2008 pode até subir à cabeça, feito vinho maduro tinto.
Mas será preciso tamanha aflição ainda por cima em dia e hora de trabalho?
Será que Viseu é mais Viseu por se ajoelhar assim a um punhado de rapazes que dão uns toques?
Penso que não, ainda por cima está lá o Nuno Gomes e o rapaz até se pode convencer que é mesmo jogador.
Penso que antes destas manifestações futebolísticas deveríamos tomar uma espécie de vacina contra as figuras tristes.

É claro que isto interessa muito ao estado. É o grande F da nossa sina dos 3F.
1ºF - Fátima - Levou este ano mais pessoas do que outro ano qualquer.
2ºF - Fado - Já reparam que aos poucos o fado está a assumir a importância de outros tempos no nosso país.
3ºF - Futebol - O grande F destes 3, é a onda que varre o país seja por paixão, justiça, seja por ganância ou até pelo desporto literalmente.

Penso que vamos começar a desenvolver, outra vez, este sentimento de arreganhar os dentes e de espumar em frente ao televisor ou a qualquer ecrã gigante pago por qualquer presidente de câmara do nosso país.

Vamos, outra vez, ver os nossos mais significativos exemplares masculinos a mostrarem os pelos do peito molhados pela cerveja que caiu do copo quando eles se levantaram à pressa, tão depressa que quase contraria as leis da física.
Vamos, outra vez, ver as moçoilas nacionais a chorar agarradas aos cachecóis ou então, o que sempre é mais agradável, beijarem na boca o primeiro gajo que lhes aparece à frente depois do golo. E depois saltam muito, em tal estado que parece que aquela bola lhes descobriu e tocou 3 ou 4 vezes seguidas no ponto G.

Quanto aos putos, que são o melhor da vida ou, neste caso, o melhor da festa. Correm dum lado para o outro, apanham uma bofetada para sair da frente, e depois são agarrados pelos pais e levantados frente às câmaras de televisão sempre com uma coisa esquesita na cabeça e uma bandeirinha na mão, a responder "sim" a tudo.

O que é interessante também são as entrevistas de rua.
Já repararam que os entrevistados pensam sempre que os microfones estão sem volume e por isso gritam que se fartam. Não vá mensagem perder-se.
E gritam, gritam, gritam sem nunca responder à pergunta do jornalista. Também não sei qual o interesse das perguntas dos jornalistas nestas ocasiões, são sempre as mesmas. Os jornalistas são uns cérebros. Alguém lhes disse que somos um povo burrinho e por isso as perguntas devem ser óbvias.
- “Está a sorrir, a saltar, a gritar, todo vestido com as cores da selecção, está feliz pela selecção estar aqui em Viseu?”
Se fosse eu, saberia o que responder.
- Não! Eu gosto de estar assim, sabe sou maluquinho e habitualmente a esta hora faço isto. Mas não, não estou feliz.”
Há ainda a questão dos jornalistas que vestem a camisola e não o deveriam fazer por imposição ética, mas isso fica para outras conversas.
Pobres de nós que temos esta coisa do futebol verde e rubro como grande meio de excitação nacional.

Senhoras e senhores o circo chegou à cidade!
Ah! E também veio o Nuno Gomes.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Um Abraço Fernando


Nunca te vi, aliás, é mentira.
Vi-te mas não te vi assim, na realidade,
em carne, em voz, em choro e em riso.
Nunca te vi assim, como te viram os teus.
Com dia e com noite, com loucura e com siso.

Nunca te vi, mas sei como és.
Sei o que viste,
aquilo que fizeste,
e os passos que te levaram,
para chegar onde chegaste.

Nunca te vi mas sei como és.
Os sonhos que tinhas, para aqueles que amaste.
Sei até as palavras sentidas, que nunca falaste.

Nunca te vi mas sei como és.
Sei da justiça que tinhas no ser.
Da verdade, da mentira e da vontade de amar.
Sei que voz gostavas de te ouvir chamar.
Eu sei o que sentias quando dizias não,
ou quando escondias a revolta na mão.

Nunca te vi mas sei como és.
Sei das tuas lágrimas e da tua dor,
das agonias passadas ao teu redor.

Nunca te vi mas sei como és.
Ainda manténs aquele olhar de criança,
que teimaste em deixar-nos, para sempre, na lembrança.
Um abraço! Até logo...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Grande seca...


Há pouco.
Muito “há pouco”.
Tive a oportunidade de assistir a um teatro dos mais novos.
Não! Não estou a falar da arte nova, da nova filosofia do teatro, dum tipo sozinho no palco durante três horas a narrar o inenarrável. Não! Nada disso.
Estou a falar de um teatro feito por crianças na escola.

Aquelas cenas do fim de ano a que todos os pais têm de assistir pelo menos uma vez na vida. É, assim, como ir a Meca para os muçulmanos.
Sabem que mais?
Meu Deus!..
Coitadas das criancinhas.

Eu penso que quem tem filhos, tem, por norma, gosto neles, e quer que eles tenham o melhor, que comam o melhor, que durmam o melhor, que falem o melhor, que brinquem com o melhor, e por aí fora....
Mas o pior de tudo é que, quem tem filhos, teima em ver no seu rebento o melhor de todos.

É natural, defendem todos.
Mas temos de pensar que o nosso filho pode não ter assim tanto jeito para coisa.
Uns nascem para serem jogadores de futebol, outros para serem primeiros ministros, outros até para serem médicos e doutores de qualquer coisa, e outros para não serem nada disto.
Já pensaram que o vosso filho pode querer ser apenas um funcionário de uma lavandaria ou um empregado de café?
E não ter jeitinho nenhum para actor ou bailarino.
Como diz o povo cada um é para o que nasce.

Vamos, de uma vez por todas, acabar com o estúpido vício dos teatrinhos e espectáculos escolares.
É que já não se aguenta!
E depois os finais de ano lectivo são sempre assim, uma seca.

São as criancinhas, quase em estado letárgico, a tentar articular uma mão cheia de frases, sem vírgulas ou pontos finais, que resultam em trinta e tal minutos de tal maneira enfadonhos, que os filmes do Oliveira ao pé disto, são autênticas obras cinematográficas de acção.
Mas os pais acham piada.
A quê?!
Só se for às cores?
As vozes e o texto quase não se ouvem, ninguém tem a noção que sem microfones e amplificação é difícil fazer-se ouvir numa sala, com pais, irmãos, avós, tios, professores, e outros aos berros durante toda a peça.
Ok! Pelo menos vê-se, dizem vocês.
Não! Também não é verdade.
Ninguém consegue ver nada com tantos paizinhos à frente do palco a filmar e a tirar fotografias, com os meninos a dizer adeus em plena actuação.

E eu nem máquina trouxe, para não ter depois de massacrar alguém com o filme ou com as fotos do pequeno. Para não fazer aos outros o que não gosto que me façam a mim.
“Ó Rute! Ó Rute, tu não ouves? Vira-te para aqui, p’ra te tirar uma foto, carago!”
A Rute vira-se e entra um professor em palco, muito aflito, a tentar desviar a actriz da tentação da foto para o papá.
Estão a imaginar se isto acontecesse, por exemplo no Rivoli, a meio de um Brecht, um parente dizer: "Ó Eunice Munhoz, importas-te de te virar um bocadinho para aqui? E, vá lá, um, dois, três, e...olha o passarinho".

Os pais ainda não compreenderam que não, não gostamos nada de ver uma hora e tal de filme com a sua criancinha a brincar no quarto com o mesmo boneco, ou com as festas de final de ano lectivo.
Tomem isto como uma regra para manter uma amizade.
Ninguém aguenta os filmes dos aniverários, festas, férias, natal e casamentos.
Nós só dizemos que sim, porque fica mal rejeitar. Entendem?

Tem calma Victor já só faltam mais dois ou três quadros, até aparecer a turma do teu filho.
-“É que isto está demais, já nem se respira aqui. Isto deve fazer mal aos pequenitos, não?” Pergunto eu na minha ingenuidade.
-“Ó senhor tenha mas é juizinho, não vê que isto é uma festa?”
Diz uma senhora quase a mandar-me um estalo com aqueles sete quilos de mão.
“Pois, pois....uma festa.”

Sabem que eu descobri que demora mais a passagem de uma turma para outra no palco, do que aquilo que eles realmente lá vão fazer?
Eu explico.
O primeiro ano acabou de se apresentar.
São quinze minutos contados e contadinhos até que o segundo ano suba ao palco, para lá estar quatro minutitos a dançar uma dança esquisita. Deve ser destas novas coreografias com movimentos individualistas, acho eu, pelo menos nenhum deles consegue imitar a professora, que em gestos cujas dimensões excedem o natural tenta, a todo o custo, marcar o ritmo e os passos da música.

E o puto que nunca mais chega.
“Ainda faltará muito?” Pergunto eu.
“Não sei o programa já foi todo alterado”.

Ah!?
Isto tem um programa?!..
Quer dizer que houve alguém que planeou isto tudo?
Quer dizer que tudo isto é de propósito?
Afinal, sou só eu!

Desculpem eu é que não entendo nada de arte infantil.
Ia sugerir para o ano uma sardinhada, caldo verde e umas bejecas para encerrar o ano lectivo.
Mas acho melhor não.
Afinal como é que os pais iam encher as cassetes de vídeo, que nunca ninguém vai ver, e os cartões das máquinas fotográficas?

segunda-feira, 16 de junho de 2008

EDP no Circo Portugal


Senhoras e senhores, meninas e meninooooossss!
Sejam bem vindos ao maior espectáculo do muuuundo!
Bem vindos ao Circo Portugal.

Um mundo maravilhoso de fantasia, único na Europa e arredores.

Senhoras e senhores, meninas e meninos!
Este é o maior circo do mundo que apresenta em exclusivo, palhaços, acrobatas, malabaristas, ilusionistas, gentinha amestrada e animais exóticos que vivem à custa de todos sem se saber bem como.

Senhoras e senhores, meninas e meninos este é o Circo Portugal.
Um lugar de fantasia único em todo o mundo onde uma empresa de electricidade, monopolista encapotada, de nome EDP consegue a maior fantasia dos últimos tempos, um grande truque que nos deixa de boca aberta e carteira vazia.
Não! Não estou, sequer, a falar no, já tradicional, alto preço de energia esse é um truque já muito visto e repetido.
Estou, agora, a falar da mais recente artimanha capaz de envergonhar artistas tão famosos como, por exemplo a Galp com a sua, já tradicional subida dos preços à meia noite e sem razão para tal.
Não! Senhoras e senhores, meninas e meninos, aqui no Circo Portugal, pela primeira vez, temos a honra de apresentar o último e magnífico truque da EDP para fazer mais dinheiro e aumentar os lucros dos seus administradores e accionistas.

A EDP vai distribuir por todos os consumidores cumpridores os débitos das facturas daqueles que não pagam.

É isso mesmo!
Um grande ardil só possível neste grande Circo Portugal.
Fantástico!
Incrível!
Extraordinário!
Para a EDP, peço-vos, uma grande salva de palmas.

Depois de saltos mortais como o da Zita Seabra que consegue passar do PCP para o PSD e continuar a ser deputada, depois das grandes parelhas de palhaços dos diferentes partidos políticos, depois dos milhões perdidos ilegalmente pelo governo, depois da magia dos grandes bancos e gasolineiras que apresentam lucros incríveis em terra de, cada vez mais, pobres, depois dos grandes negócios atribuídos às grandes construtoras financiadoras do sistema, aí está o maior truque do ano.

Gostaria de lembrar que este Circo Portugal tem, ainda, para todos, o maior número de hipermercados. É de valorizar o esforço dos artistas que estão a tentar, tudo por tudo, para que cada português tenha só para si um centro comercial, mesmo não tendo dinheiro nenhum para lá gastar.

Já agora, se me permitem, só uma pergunta ou duas.
E se a moda pega?
Já imaginaram um juiz atribuir uma pena a um determinado número de bons e bem comportados cidadãos, só porque o condenado não quer cumprir a pena?

É este o maravilhoso mundo dos brinquedos!
Obrigado pela vossa presença e voltem sempre ao maior espectáculo do mundo.
O Circo Portugal espera por si.

E você vai continuar a pagar bilhete?

domingo, 15 de junho de 2008

Palavras do Coração


As palavras são pequeninas,
quando fala o coração.
Que, por tão cheio de amor,
tudo diz quando calado,
tudo sente maravilhado,
com tudo o que é falado.
Quando um olhar molhado,
sorri quando vence a dor.

sábado, 14 de junho de 2008

Beijo

Hoje mandei-te um beijo.
Foi o beijo mais longo do dia,
e a maior promessa da noite.
Um beijo molhado, inundado de sentimentos.
Cheio de paixão, desejo e vontade.
O beijo que hoje te mandei,
foi um beijo de verdade.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

A Espuma dos Dias

E pronto!
Já passou outra semana, e eu a ver.
Já passaram os dias um depois do outro, pela ordem natural, sempre na perfeição das horas, na confusão dos minutos e na loucura dos segundos.
Já passou o tempo que nada ou tudo deixou.
A espuma, essa, continua a vir e a ficar em cima, num bailado de roda, num vai e vem descontraído como o fluir do pensamento livre, vazio e profundo.
É a espuma dos dias, aquilo que fica, por vezes efémero, outras demorado, sempre com significado.
Uma semana passou, com as mesmas confusões, escolhas e opções.
Um dia depois do outro. Sempre um dia depois do outro.
Uma semana de risos, de conquistas, de lutas de guerras, de birras.
Uma semana de sentimentos mais ou menos superficiais, que nos fazem rasgos na pele, que nos trazem tantos ais.
Lá vai ela.
Adeus semana, até para o ano.

terça-feira, 10 de junho de 2008

A Raça




Hoje é dia de Portugal, de Camões e das Comunidades portuguesas.
Na linguagem do estado novo, do Carlos Tê e do actual presidente da república é dia da nossa raça.

E depois?
O que é que tem de mal dizer que é dia da raça?

Porque faz levantar da campa as ideias e atitudes da ditadura, dizem os comunistas e bloquistas e outros istas de esquerda.
É uma expressão retrógrada, xenófoba e nada condizente com a atitude europeísta actual, dizem outros que nem sei se terão algum prefixo ao “ista” habitual.

Quanto a mim, tanto me faz.
Acho que com um café, um cigarro mal fumado à porta de um snack e um polícia a passar uma multa ao nosso carro enquanto um larápio assalta uma velhinha mesmo em frente. Com as câmaras que nos vigiam dia e noite, com as proibições e investidas diárias contra a nossa intimidade, somos capazes de arranjar argumentos que defendam ou que contrariem uns e outros.

Nós somos assim.
Devemos ter um gene qualquer que nos faz ser portadores de uma coisa a que eu chamo “carneirismo”.

Eu explico.
O carneirismo é a característica que demonstra e explica a arte e o engenho de se ir atrás dos outros mesmo que não se saiba porquê, nem para onde se vai.
Exemplos não faltam no nosso querido país, este rectângulo habitado maioritariamente por exemplares da nossa raça.
O português carneirista é um ser com pêlo na venta, nas pernas, na cara, aliás creio que não deve haver célula da cútis que não tenha bem hasteado um grande e grosso pêlo, armado em bandeira nacional em dia de feriado nacional.

O exemplar da nossa raça, tem uma barriga tão grande, que não deve frequentar nenhuma área hospitalar de obstetrícia, não vá ser levado em maca para uma cesariana de urgência.
Por fora pouco mais há para falar sobre estes elementos da raça, a não ser a indumentária característica em dias de folga, fins-de-semana e feriados. São fatos de treino de cores tão garridas que, para os encarar, quase é necessário um par de óculos dos que se utilizam nos eclipses.
Há relatos que nos indicam também alguns avistamentos destes seres, com calças corsárias muito largas e camisolas, tipo T3, que quase poderiam albergar duas ou três pessoas ao mesmo tempo.

O raçudo português carneirista tem um intelecto muito desenvolvido e, normalmente, consegue abstrair-se de qualquer pensamento ou raciocínio que envolva mais do que sexo, carros, cerveja ou futebol, mas sempre em pensamentos separados. Para estas criaturas não é humanamente possível misturar assuntos, se é sexo é sexo até ao fim, e consegue-se perceber que é este o pensamento, quando se observam uns fios de baba a escorrer pelos cantos da boca, umas bochechas avermelhadas e o discorrer de frases características como: “Belas pernas! A que horas abrem?”.

O carneirista se ouve um outro a dizer que o pau é pedra, jura logo que também concorda e “Fique ceguinho se não é assim”.
O português caneirista gosta muito de políticos e de festas da campanha eleitoral, onde aparece sempre de copo cheio e bandeira içada na outra mão.
São atletas e desenvolveram o perfeito equilíbrio, pois por mais abanões que façam e que sofram, conseguem manter o néctar das uvas dentro do copo sem entornar nem uma gota.
Não se importam com ideologias ou cores partidárias.
Se lhes derem um copo cheio e uma fêvera (seja de que tipo for), aguentam duas ou três horas a gritar slogans e a berrar muito nos directos da televisão.

Penso que foi este género humano a fonte inspiradora de grandes figuras que populam as realizações cinematográficas mundiais como, por exemplo, o Shrek.

Mais se poderia relatar sobre a maneira de estar, ser e pensar destes seres da nossa raça, que são a prova viva que a raça existe, está viva e recomenda-se.
Tivemos de esperar mais de trinta anos para que estes factos fossem reconhecidos ao mais alto nível nas palavras do presidente desta nação.
Finalmente foram.

Aqui deixo pois a minha concordância com o mais alto magistrado e sublinho a mesquinhez de uma certa camada social que teima em varrer para debaixo do tapete o nosso verdadeiro DNA.
Viva a raça portuguesa
Viva Portugal.
Acho eu...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Dona Isabel

Hoje vou falar da dona Isabel.
Ela nunca há-de ler este texto, e tenho muitas dúvidas que alguém, algum dia, lhe venha a falar do que aqui vou escrever.
Não sei se terei pena que assim seja.
O mais provável é que, por mais que escreva, a dona Isabel há-de ser sempre a mesma, há-de nunca reparar em mim e vai continuar com a sua vida independente de qualquer linha preenchida com meia dúzia de palavras a seu respeito que nada mais valem do que o valor que pode ter um a, um, b, ou um c.

Mas hoje o dia foi diferente, foi um pouquinho diferente mas tão profundo e tão cheio de teor.
A dona Isabel olhou para mim e falou. Foram os meus cinco minutos mais preenchidos dos últimos tempos.

E ela assim.
Tão distante, sempre tão deslocada, com o coração apertado, quase pedindo desculpa por existir. Medindo cada palavra com medo do erro da fala, escondendo aquela voz dobrada pelos anos, pela dor e pelo álcool, e mostrando todo o receio de quem acha que é sempre mais pequeno e menos importante do que os outros.
Pensando que não tem qualquer direito, nem que seja de sorrir pelo menos uma vez.

“Esta vida é uma cabra” disse-me, assim como quem despeja o coração resignado e preenchido, desde sempre, com a mágoa, a aflição e o desassossego.
-“Nunca fui feliz! Não sei o que é que vim cá fazer, a minha vontade é morrer, mas nem ao cemitério me deixam ir.
Sabe? Eu não sei o que é um carinho, nunca soube, por isso, se calhar, nunca eduquei os meus filhos e agora é isto.
Mas eu gosto muito deles, e o meu netinho!? Ai, senhor, havia de ver o meu netinho.
Sabe, senhor, ontem comprei-lhe um bolinho para ele levar para a escola, ficou todo contente, e embora cheio de dores porque lhe bateram na semana passada, foi todo feliz porque também ele tinha um bolo de aniversário como os outros.
O meu coração saltava só de o ver. Coitadinho, na semana passada, um rapazola apanhou-o e ele, porque tem uma “dificuldadezinha” na cabeça, levou tantas que até lhe partiram os óculos.
Mas sabe? No dia a seguir apanhei o miúdo.
- Bateu-lhe dona Isabel? Perguntei eu preocupado.
- Não, claro que não! Fui ter com ele e disse-lhe que aquilo que ele fez não se faz nem a um animal. Um dia ele também vai ser grande e vai perceber que foi muito mau para o meu netinho e que Deus há-de encarregar-se de lhe mostrar que temos de respeitar todos os outros.
O senhor sabe como são as crianças...
E depois o meu menino é assim como é, eu também sei, já em nova todos diziam que era maluca e que não sabia nada.
Eu podia ter dado ao outro duas ou três palmadas, senhor, mas de que ia adiantar só o ia magoar ainda mais e não resolvia nada.
Sabe eu sou assim tolhida das ideias.

Não! Dona Isabel, não!
Você não é assim.
Hoje você mostrou-me porque é que eu sou pequenino, porque é que o mundo é um lugar onde também há coisas boas, hoje a senhora trouxe-me à terra.

Não chore dona Isabel.
Quem é que ia adivinhar que ontem o dia ia terminar assim, com a senhora banhada em lágrimas num choro que durou até esta manhã quando eu, sem querer, me sentei ao pé de si.
Cada lágrima era uma dor, uma ferida, uma mágoa.
Sabe dona Isabel, o facto de ter fugido ontem da festa de aniversário do seu neto é perfeitamente natural numa pessoa que passou o que a senhora passou.
Não! Não golpeie mais a sua alma, o seu neto há-de ser grande e, tenho a certeza, há-de compreender. Há-de compreender que a vida dá-nos e leva-nos. Há-de compreender que a avó é uma grande mulher, que também tem direito a ficar assim chocada por uma palavra mal dita, num minuto infeliz, por uma boca sem fé, sem compreensão, mesmo que seja de um filho, naquele dia tão igual tão cheio de nada e de tudo. Depois de uma vida tão vaga de sorrisos e tão inundada pela dor.
Não fique assim dona Isabel, na próxima semana vai ver o seu netinho nas marchas e vai ver que ele vai ficar outra vez feliz.
Dona Isabel, há quem por muito menos nunca nada tenha tentado.
E a senhora não só tentou como realizou, construiu, criou, amou, sofreu, aguentou e conseguiu.
Por muito pouco que ache, o seu mundo foi dos maiores que eu conheci.
Sincero e lutador.

Os nossos dois mundos encostaram-se hoje, e sentados naquelas cadeiras ombro a ombro completaram-se, porque hoje a senhora fez a minha vida valer um pouco mais.
Sorrio, agora, ao pensar na sua face tão rosadinha, e envergonhada, nos seus olhos que tudo diziam e mostravam, e imagino como é tão grande este ser, com quem tive hoje a sorte de partilhar cinco minutos que mais valeram que cinco volumes de qualquer enciclopédia.
Mais me contou a grande dona Isabel, coisas que vou guardar para sempre no meu coração.

Sabem?
Depois daqueles cinco minutos estávamos os dois muito melhor e quem agradeceu fui eu.
Afinal não era ela que necessitava de falar.
Eu é que precisava de ouvir.
Hoje falei com um anjo.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

A queca




Sabem o que me chateia?
É esta "nacionalite" em torno da nossa selecção, e de Cristiano Ronaldo.

São horas e horas de programas com toques, encontros, cumprimentos, reportagens sem assunto e, imagine-se até, transmissões directas de treinos, e jogos dos amigos do Figo e de antigas glórias com as “donas Glórias” do povo que concorrem a concursos de caricas.

Ser jornalista é não vestir a camisola.
Ser jornalista pressupõe ser factual e ser apenas o veículo transmissor do acontecimento e não fazer parte dele ou opinar sobre ele.
A informação deve ser objectiva.

Vemos, no entanto, os nossos queridos jornalistas de camisolas vestidas, cachecóis ao pescoço, aos pulos, e quase a babar quando falam com os jogadores, especialmente se se chamar Cristiano e Ronaldo.

É isso a que temos assistido, mas também acho que neste país é pecado falar mal da selecção.
Falar mal de Scolari, Gilberto Madaíl, ou outra criatura da federação é tolerado. Falar mal dos políticos e das mães deles é lana caprina.
O povo é sereno e tolera que se diga qualquer coisa destes senhores, que serão, certamente, cruxificados se a selecção falhar. É assim tipo uma preparação para o corredor da morte.
No caso de Scolari uma preparação para abraçar definitivamente a vida de vinicultor patrocinado pelo banco da nação.
Agora, falar mal de qualquer jogador, isso não! Isso é pecado.

Eu quase levei com duas mãos cheias de dedos, só porque disse que talvez, sublinho talvez, o Nuno Gomes e o Petit devessem ter ficado a ver o europeu num ecrã gigante da capital.
Mas que coisa fui eu fazer!
Cometi uma tamanha transgressão, quase de preceito religioso, que aquela boca ficou virada para mim espumando salpicos de saliva em cada duas de três palavras articuladas, quase em simultâneo com movimentos bruscos dos braços para cima e para baixo em ritmo repetitivo e cadenciado.

É estranha esta coisa que nos leva a este efeito de temeridade de um momento para o outro. Mas o mais intrigante é que tal como vem, esta...chamemos-lhe audácia excessiva, assim vai embora e passa sem mais nem menos.
Salvou-me da bofetada o facto de o meu interlocutor ser meu amigo e, creio também, o facto de ele olhar para mim e pensar: “Este tipo não percebe nada de futebol, coitado”.

Mas, como é habitual, não era disto que eu queria falar.
O que eu queria levar os meus amigos a pensar hoje, tem a ver com o facto de estarmos a levar de cinco em cinco minutos, seja qual for o canal, com o Cristiano Ronaldo a dar toques na bola, a rir-se, a sorrir, a contar a história desde pequenino, admiro-me até de ainda não ter aparecido o vídeo das primeiras ecografias no ventre materno.
São horas e horas de entrevistas a ele, às irmãs, à mãe, aos tios, aos vizinhos, às mulheres dos vizinhos, às amantes dos vizinhos, e até aos maridos das amantes dos vizinhos.
Estou farto! Já não aguento mais!

Sim eu sei que ele é o melhor para as mulheres, é o melhor jogador do mundo, que não tem um cão, que tem uma piscina fantástica, que andou, anda, ou vai andar, com uma tipa que é um monumento internacional, que tem bons carros e uma espécie de “piercing” num dente, “and so one....and so one...”

É que: Já não dá mais!

A seguir vão fazer o quê?
Filmar e entrevistar o Ronaldo a dar uma queca?
Depois, pergunto-me qual o papel dos jornalistas neste caso?
Vai com o microfone em riste e zás:
-“Ronaldo, em directo e exclusivo para a TVI, esta forma de dar quecas é uma coisa que envolve muito treino, imagino? ”
Ao que o jogador assevera:
-“Não! Penso que todas as quecas são importantes, eu estou aqui para dar o meu melhor, é para isso que trabalho todos os dias, e o mais importante é que a pequena fique satisfeita.”
Haja paciência!
Ah!...e ainda acho que o Nuno Gomes e o Petit deviam, pelo menos para o bem de todos, ter perdido o avião.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Beijinhos



As ideias mais felizes do mundo, normalmente, são também as mais criticadas e, permitam-me, as mais malucas pelo menos no tempo em que são proferidas.
Isso acontece aos melhores.
Não quero com isto chamar maluco a ninguém.
Foi assim com um número bastante alargado dos melhores exemplares da nossa espécie. E depois, pumba! Com o tempo provou-se que tinham razão.
São, como dizem os nossos jovenzinhos, seres muito à frente. Estão a ver a cena? Tipo, sei lá, seres muito à frente. Mas tótil! Assim, tipo, bués.

É curiosa esta maneira de falar, só me irrita um bocadinho porque o corrector do “microsoft word” está sempre a assinalar erros ortográficos.
Mas paciência.

É a evolução, dizem uns. É uma merda de educação, dizem os outros que ainda vivem no tempo em que a palavra pesava um pouco mais que um acto.
Acho que a língua é uma coisa viva e por isso dinâmica (não, seus marotos...já estavam a pensar que eu ia falar no tão polémico acordo ortográfico).
Não.
Não vou agora. Falo um pouco mais à frente quando não tiver temas suficientemente inócuos para abordar.

O que eu quero focar neste momento é mesmo o que se faz com a língua – o órgão que fica situado na cavidade bocal e que serve para muitas coisas, entre as quais os famosos linguados, não o peixe pleuronecto de corpo achatado, muito apreciado e vulgar na costa de Portugal, mas beijos de fama mundial celebrizados, publicitados e amplificados no nosso país através das diversas telenovelas e filmes estrangeiros de cariz muito, pouco ou mesmo nada duvidoso.

Já pensaram que o beijo foi das coisas que também evoluiu nestes últimos, talvez, 20 ou 30 anos?
É isso, o beijo.
Tanto falamos dele, tantos damos, ou pelo menos devemos dar - senão mais vale olhar para o espelho ou ir a correr ao psicólogo mais próximo ou então ir ao dentista.
Mas será que alguém já parou para pensar nele? Não no dentista...no beijo!
Creio que não.

Pensem lá como seria imaginar certas pessoas a beijarem-se?
É esquisito imaginar o Sr. Presidente a introduzir a sua língua na boca da primeira dama por, pelo menos, 2 ou 3 minutos, ou, por exemplo, Mário Soares oscular longamente Maria Barroso.
Seria também estranho imaginar num longo beijo, Luís Filipe Meneses, Manuela Ferreira Leite, Victor Constâncio, Francisco Louçã, Zita Seabra, Jaime Gama ou mesmo Jerónimo de Sousa.
Já mais fácil é imaginar, Pedro Santana Lopes, Ana Drago, Nuno Melo entre outros.
Imaginem lá, os vossos avós, ou se conseguirem ir mais atrás vão.
...
...
Estão a ver?!
Devia ser uma coisa tipo Pepe Rápido, a coisa, quando ia, não ia além do toca e foge.
O beijo não seria mais do que o poisar levemente os lábios nalguma pessoa normalmente de sexo diferente.

Agora não, isto demora o tempo que demora, tem o seu ritmo, a sua onda.
Tudo se beija, em todo o lado, a todas as horas, e mesmo sem reparar no sexo, ou, às vezes, até no que se está a beijar.
Como estão a ver o beijo evoluiu mas continua, a ser aquela cena romântica, com que um tipo brinda uma dama, e cria aquele ambiente onde, normalmente os nossos jovenzinhos ficam com cara de parvos e todos vermelhos com as borbulhas quase a rebentar.

Serve isto tudo, meus amigos, para dizer que eu atribuo importância ao beijo.
Não que tenha personalidade jurídica, mas, para mim, é quase uma entidade no edifício do amor (uau que lindo e tão rasca).
Por isso não acho bem andarem a dar-se beijos por aí a torto e a direito. O beijo está hoje pelas ruas da amargura, dá-se beijos por tudo e por nada.
Vai um gajo na rua e: “Hei! Olá! Toma lá beijnho.”
Vem um tipo do hipermerado, cheio de sacos, com os putos a berrar, a deixar cair a chave do carro e de repente aparece aquela pessoa que não víamos há séculos, e não nos importávamos de continuar a não ver, e pimba – lá vai beijo.

E pior pior, é o facto de agora todos os jogadores de futebol darem beijos uns aos outros quando são substituídos.
Mas eles dizem o quê?!
“- Olha pá fico imensamente feliz por te ver a entrar em campo, e ainda por cima vais substituir-me, és mesmo romântico, toma lá beijinho.”
“- Oh pá! Eu não estava nada à espera, foi uma coisa que o mister decidiu, e eu fiquei muito sensibilizado, toma lá beijinho.”

Isto é alguma coisa?!
Bem, se calhar, sou eu.
Se calhar, estes são dos tais que estão muito à frente. Só que devem estar mesmo muito porque assim, pelo menos eu, não os vejo.
Ora, como teima em dizer uma pessoa amiga, poupem-me.
Ah! Beijinhos para todos.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Português????!!!!!!!


Hoje estou com dificuldade em escrever, em português.

É que hoje estou a sentir-me um bocado “Mourinho”.
Uau!
Pois é verdade! Por isso façam o favor de ter muito cuidado com os comentários.
Ah! O quê?!
Não me digam que não viram aquela coisa que serviu de conferência de imprensa para apresentar “il Speciale”.

Só não achei muito bem o Mourinho dizer: “Non sono mica pirla” seja lá o que for não fica bem a ninguém.
Não estou a ver, por exemplo, o presidente Cavaco Silva chegar ao pé da primeira dama e dizer: “Ó filha, sabes? Hoje não porque non sono mica pirla”. Ora isto não é bonito.

Não sei, acho que o homem tem de se conter.
Sim ele é “il Speciale” e depois é português e tudo...desculpem!!! Será que posso repetir?

Ele é português e tudo????!!!!!!!!!
Ah! Devo estar enganado.
Pois estou, só posso estar.

É que, imaginem que a estação nacional especialista em interromper emissões para dar o Mourinho em directo (SIC), mandou um jornalista para Itália, para questionar o grande “Speciale”. Ora vejam lá se isto se faz?
E não é que interromperam mesmo a emissão!

Na altura a fadista Aldina Duarte, que tem um novo CD, falava da sua experiência com deficientes mentais e o facto de serem obrigados a estar com as famílias e não terem locais onde possam estar em conforto e acompanhados profissionalmente....mas isto que importa para o país dos pequeninos chamado Portugal?

E não é que o jornalista da SIC teve a distinta lata de fazer ao “Speciale” uma pergunta em português?
EM PORTUGUÊS?!!!!
Ele há cada uma!...
Imaginem lá, a lata do moço a questionar o supremo senhor em português.
Claro que o “Speciale” fez 3 vezes de conta que não ouviu, e depois muito a custo disse em italiano que não falava em português.
Confusos? Leiam lá outra vez o parágrafo....que eu espero.
....
....
Já está?
Adiante.
Sem outros recursos, e porque estava em directo, o jornalista pediu autorização ao “Speciale” para, pelo menos, poder perguntar em português e aguardar resposta em italiano, ao que o digníssimo “Speciale” anuiu.

Sabem, poderia agora enumerar um rol de argumentos em torno deste assunto, poderia sublinhar pensamentos sobre esta situação, mas não sei italiano e nem estou para perder mais tempo com pacóvios.
A ignorância é tão atrevida.
E logo eu que até acho que a Itália tem a mais bonita língua deste planeta (para além de outras partes do corpo também muito apreciadas).

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Rock in Gato

Há coisas que me fazem daquela comichão no nariz.
E hoje era um dia daqueles bonzinho para uma comichão daquelas.
Era até um bom dia para dizer mal do que quer que fosse.

Não sei se o mesmo se passa convosco, de vez em quando, mas comigo é assim – há dias em que não me apetece falar mal.
E hoje não estou nesses dias.
Entendem?
Não! Descansem não é o período.
Sou mesmo eu.
Ufa! Isto de ter de explicar tudo, como se vocês fossem mesmo eu, é complicado.

Mas eu sou assim, por vezes, complicado.
E o pior é que eu não consigo evitar! Desculpem.
Isto é do piorio!
Acho que tenho qualquer problema. É aquela coisa que me dá, quando me ponho a pensar, e pumba! Lá vem mais uma cavaca para a fogueira.

Não gosto de políticos, e não tenho jeito nenhum para levar com tipos, que não sendo políticos, acham que o são e por isso podem fazer de nós parvos.
São certas pessoas que têm a mania que são mais do que qualquer um dos mortais que se atravessa à frente delas?
E têm manias que são, como hei-de dizer..., sublimes.

Mas já lá vamos, se tiverem a paciência e a delicadeza de lerem, algum dia, aquilo que para aqui rabisco.

Aos políticos eu atribuo um valor especial, acho até que têm um estatuto na sociedade, um estatuto que conquistaram a pulso e que, por isso, merecem a designação de únicos. São os únicos com legitimidade para fazer, normalmente, mal o que quer que queiram fazer.
São assim como as emissões HD (alta definição) dos plasmas na Worten (desculpem a publicidade), só se vê lá. Depois em casa é tudo igual e mais valia termos comprado um baratinho.

Mas há gente que acha que nós somos parvos!
A sério!
Eu sei que vocês não acreditam mas há gente que acha que pode fazer de todos parvos e que nós nem damos por isso.
É verdade!
Fantástico!

São melhor que qualquer episódio de qualquer gato fedorento (pronto comprei uma batalha).
Sim eu também gosto dos episódios do gato fedorento, sim eu também acho que o humor deles é engraçado, sim eu também penso que nos fazem passar um bom bocado quando os apanhamos num canal qualquer que os comprou por uns milhões de euros.
Sim eu também acho que por aquele dinheiro eu e você fazíamos, por exemplo, um grande espectáculo ao vivo todas as semanas, em diferentes cidades do país, só com grandes artistas nacionais, mas que se lixe. Isso era capaz de ser cultura a mais para um povinho que se quer assim...a rir com aquele humor capitalista (pelo que custa e também por ser da capital) a que se denominou inteligente.
Atenção! Eu não quero dizer com isto que os rapazes não são inteligentes e divertidos. Só acho que, se calhar, estão assim como a gasolina. Com um preço um pouquinho alto.

E depois, quem é que ri do gato fedorento?

São os empregados de escritório, dos serviços, aquelas pessoas que nos mandam aqueles mails, que nós nunca sabemos como começaram e quem é que os fez, e claro, alguma da gente jovem que anda no liceu ou nas EB23 ou sei lá que nome dão agora aquele sítio onde os alunos batem nos outros alunos e os professores se queixam de apanhar dos alunos que, por sua vez, se queixam do ensino e da ministra e estão sempre prontos para meter cadeados nos portões e sair à rua com bandeiras vermelhas e/ou pretas em riste a gritar muito alto "Não pagamos" ou então outras coisas que nunca chego a perceber. Aliás acho que as manifestações transmitidas na TV deviam ser legendadas (mesmo que fosse em brasileiro tipo DVD de feira).
Sim! São estes que assistem aos episódios do gato fedorento. Ah! E eu, claro.

Mas, por incrível que pareça, não era disto que eu queria falar.
Admirados?
Pois não estejam.

Eu queria mesmo era falar do Rock in Rio.
Sou só eu, ou apesar de tudo, fico sempre com a impressão de que no fim há alguém a dizer: "Já os comemos outra vez."?
Para mim isto é assim como o gato fedorento, eu até gosto, acho interessante virem tantos artistas, fazerem grandes espectáculos e isso tudo.
Mas quando ouço os organizadores a falar, fico com aquela comichão no nariz.
Quer parecer-me que estarão a pensar: “Viemos ensinar a esta gente como se faz, sem nós não eram nada, não tinham nada...somos mesmo bons."

E agora...(tremideira de nervos)....e agora...(vá lá)...e agora.....estamos em directo para todo o país...é agora...Ok! Vamos ter outra vez Rock in Rio em 2010. Pudera! É negócio da china ou de outro pais qualquer do terceiro mundo.
É assim como a igreja universal, enquanto der aqui tudo bem, depois parte-se para outro lado.
Ainda havemos de ter Rock in Rio Luanda ou outra cidade africana.
Se calhar estou a ser injusto. Admito.
Acho que nós conquistamos o Brasil à paulada e à força, mas estamos a ser conquistados com muita inteligência.
E o pior!
É que estamos a gostar.
Se teve a delicadeza de ler isto tudo diga lá, será assim?
Ou só sou eu?