quinta-feira, 24 de julho de 2008

Triste País


Confesso que ultimamente tenho tido uma espécie de letargia intelectual para escrever qualquer coisa que faça sentido.
Será do tempo?
Estarei triste ou deprimido?
Não sei.
O que sei é que, é-me difícil iniciar qualquer texto que relate o que sinto ou penso.
Não que se tenham acabado os assuntos, não que não haja substância potencial para dar corpo a meia dúzia de linhas, mas porque simplesmente não me tem apetecido.

Assuntos nunca vão faltar nesta nossa "república à beira-mar encalhada".

Por exemplo:
Se o Presidente da República foi visitar as zonas mais deprimidas deste país, porque é que nas imagens o pessoal dançava e cantava?
Ou se era mesmo para visitar as zonas a necessitarem de tratamento psiquiátrico e químico para a depressão ou tristeza, porque não ficou oito dias fechado, com os deputados, na Assembleia da República?
Ou ainda porque não decidiu o Senhor Presidente passar oito dias em todas as cidades do país?
Será só nos Vales do Norte que o povo anda enfadado com esta merda de vida?
Acho que não.

Triste é ter um presidente que julga que com uma visita, os discursos de circunstância e o corta fitas do costume, resolve qualquer problema, escarrapachando a tristeza do povo que o recebe em festa, mas que fica ao largo “cordialmente protegido” pelas grades de ferro, do outro lado da rua.
Triste é termos de assistir a um espectáculo presidencial com sorrisos de conjuntura e as mãos cheias de nada, como quem diz: “Rapazes vamos mostrar ao mundo como esta gente é mesmo triste e deprimida!”

Triste é ler no jornal que Margarida Correia da Silva, uma mulher de 95 anos, morreu à fome no casebre onde vivia em pleno centro da cidade do Porto.
A mesma cidade onde se falou toda a semana em destruir e construir habitações.
Isto sim, Senhor Presidente!
Isto é que é a tristeza do país deprimido a que V. Excia. preside.

4 comentários:

Anónimo disse...

Bem "esgalhada"essa análise à visita do Presidente ( creio que se referia ao Vale do Ave..)
Entretanto deixou um comentário muito pertinente no meu blog no post " E os abutres foram com o Pai Natal ao circo".
Já lhe repondi e coloco uma questão. Se quiser aceitar o desafio...

cecília disse...

Confesso que estou a ficar fã de ler textos tão bem escritos e com críticas tão oportunas. Não só neste blog, como noutros que, através deste, começo agora a conhecer.

Para todos aqueles que, neste país deprimido, acham uma tristeza que a geração mais jovem não saiba escrever sem "smileys", abreviaturas, "ús" em vez de "ós", "kápas", em vez de "quês", "xis" em vez de "ésses" e muito menos ainda, saiba redigir;

Para todos aqueles que, neste país deprimido, acham ridículo que livros como o de Carolina Salgado ou de Zézé Camarinha sejam editados, e ainda por cima, cheguem aos tops de vendas, é um prazer reconhecer que há ainda quem "junte umas letritas" em bom português, e as "arrume numa prateleira", onde, sem polémicas, escândalos ou façanhas, as deixe assim: à mão de semear, pelo simples gozo de haver quem as leia...

Victor Cardoso disse...

Carlos obrigado e quanto ao desafio, pode sempre contar comigo.

Victor Cardoso disse...

Cecília, não me vou armar em "humildezinho", soube-me muito bem ler o comentário.
Mas tenho a noção que estes rabiscos são pequenos quando comparados com os textos dos blogs que, orgulhosamente, indico aqui como links.