terça-feira, 29 de julho de 2008

O "Prêmio"



A sala estava cheia de fumo, não sei se era permitido fumar, ou se estava presente o Sr. Engenheiro.
Pelo fundo da porta notava-se que lá dentro se davam uma boas charutadas, pela exalação que teimava em furar a frincha inferior.

Lá dentro, imagino três ou quatro júris de óculos alojados na ponta do nariz, lendo as últimas novidades dos mais conceituados escritores.
- Então essa picanha vem ou não vem?
- E a minha feijoada?
- Eu já pedi uma caipirinha há mais de meia hora...
Ao fundo uma voz respondia:
- Já vai! Já vai "pôxa"!

Entretanto cá fora, no balcão de atendimento, uma secretária loura, com o cabelo revirado nas pontas, com ar imponente e os seus seios aprisionados querendo rebentar a blusa verde e amarela, recebia as candidaturas.

- Próximo!
- Bom dia.
- Bom dia, "faxavôr".
- Eu vinha concorrer ao prémio.
- Claro! Havia de vir ao quê? Ao açougue?!
- Não! Claro que não!
- Nome da obra?
- Os Lusíadas.
- O seu nome?
- Luís...Luís Vaz de Camões.
- Que engraçado tem o nome do nosso prémio. Nacionalidade?
- Portuguesa.
- Portuguesa?! De Portugal?!
- S..sim!
- Meu Deus! Mas você é o quê? Cego? Ah pois, desculpe, por acaso até é...mas tem outro olho. Não vê ali escrito na porta: "Só se aceitam candidaturas de escritores brasileiros"!
Vá, vá...saia da frente e desampare-me a loja.
Próximo!
- Bom dia.
- Bom dia,o seu nome "faxavôr".
- Eu?! Carolina...Oi garôta...Carolina Jurassi.

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