segunda-feira, 28 de julho de 2008

O Tuningueiro


A propósito de um evento que decorreu este fim-de-semana no Porto.
Há uma espécie que me emaranha as ideias.
Uma espécie que não consigo entender, por mais voltas que dê à teoria evolutiva.
São, geralmente, indivíduos do sexo masculino e andam aos magotes, mais na noite do que de dia.

Estes seres são capazes de passar dias e dias seguidos encostados a um qualquer muro da cidade.
À frente deles ostentam carros de várias marcas e de preços mais ou menos avultados.
Penso que os veículos utilizados por esta espécie, a que chamarei “Tuningueiros”, não devem ter ar condicionado porque eles passam a vida fora do carro e com todas as portas abertas.

Os “Tuningueiros” sofrem, normalmente, de várias doenças fruto, creio, de um desvio evolutivo a julgar pela teoria de Darwin.
A primeira atrofia situa-se ao nível da audição. Estes estranhos seres necessitam de ouvir música de forte batida, sempre com um nível de decibéis acima do permitido por lei.
Neste campo a investigação já deu resultados e conseguiu criar tecnologia específica para que os “Tuningueiros” consigam ouvir “ao mais alto nível” a sua música.
Os aparelhos chamam-se colunas de som e amplificadores que, em circunstâncias normais, são utilizados nas discotecas.
Aplicados nos carros produzem um som de tal forma potente que conseguem fazer dançar um morto.
Pena é que o sistema nacional de saúde ainda não comparticipe no preço destes aparelhos tão úteis aos “Tuningueiros”.
Outro dos, mais relevantes, males que afectam esta espécie é o mau gosto.

Um “Tuningueiro” tem uma obsessão pela decoração do seu carro, e é capaz de gastar o dinheiro de um jackpot num par de faróis, dois pára-choques e quatro amortecedores.
Esta obsessão chega a ter contornos idênticos ao vício do jogo.
O mais incrível é que gastam todo este dinheiro para depois ficarem com o carro parado, com as portas abertas e a música nas alturas. Naturalmente ficam sem crédito para o combustível.
São sempre jovens que vacilam entre os 18 e os 25 anos, usam óculos escuros de armação dourada e cabelo espetado ou penteado para trás com dois ou três frascos de gel.
Outra das características do “Tuningueiro” é a indumentária. Camisolas muito apertadas, calças de ganga rasgadas e botas estilo cowboy. Alguns podem também suportar ao pescoço o peso de algumas correntes (sinal de um estado mais adiantado da doença), mas são menos.

Até hoje ainda não há provas da irreversibilidade do Tuning, esta moléstia está ainda em fase de investigação.
Uma fenómeno que faz confusão aos investigadores é:
“Se eles passam o dia sem trabalhar, onde arranjam o dinheiro para sustentar este vício?”
Creio que estas pessoas necessitam de ajuda e de mais atenção das entidades governamentais.
Se existem salas de chuto e clínicas de tratamento para outras dependências, não se deveria fazer o mesmo pelos “Tuningueiros”?

5 comentários:

Anónimo disse...

Aqui também os há, acho que estão espalhados por todo o lado..hahahahahah

Anónimo disse...

O Tuning é uma arte, poucos o entendem.

cecília disse...

Depois de alguma pesquisa, acho que descobri o ramo darwinista dos ascendentes dos "tuningueiros".
No nosso tempo (sim, porque já lá vai algum), tinham um nome diferente: Pertenciam àquela sub-espécie de "Tonis" e "Zézés", cuja actividade económica principal residia na venda de azeite; aos molhos, aos kilos, às paletes!!
Se há grandes diferenças, as semelhanças, são, no entanto, bem evidentes:
Cada folículo capilar, rigorosamente empastado com "brilhantina" sebosa, mas com patilhas cabeludas e negras de "Restaurador Olex"; as camisolas justas, sim, mas com grandes colarinhos de fora, à "aviador"; correntes também: de ouro, grossas, penduradas ao pescoço, emergindo pelo meio dos fartos cabelos do peito, onde, ainda se vislumbrava a tatuagem azul, em forma de coração, com a inscrição "Amor de Mãe". As calças só eram diferentes na largura: se os "tuningueiros" as preferem de ganga e justas, os seus antepassados gostavam de "terylene" e largueza: especialmente nos fundilhos, à boca de sino; e daqui espreitavam os sapatos. Não botas à cowboy, mas, mesmo assim, sem dispensar o formato bicudinho, polidinho, envernizadinho, e com um tudo nada de tacão.
Dos apêndices articulados que lhes pendiam do final dos braços, uma característica marcante: a unha do dedo mindinho, descomunal e amarela, multifacetada na utilização: limpa cerume, limpa sarro de outras unhas, indispensável para desembaraçar da sopa os pelos do bigode.
Finalmente, encandeado pelas lentes espelhadas dos "Rayban" da FIC (Feira Internacional de Custóias), qual ADN mitocondrial, que liga estas duas espécies, surge o antecessor de todos os equipamentos "tuningueiros": o rádio de plástico, encardido nas ranhuras, a pilhas não alcalinas nem recarregáveis, colado ao apêndice auditivo, enquanto berra um faduncho do Marceneiro.

É altura para citar o velho mestre: mudam-se os tempos.......

Victor Cardoso disse...

Cecília bom ponto de vista...

Anónimo disse...

Não sei bem se é vício ou adição, mas a verdade é que recebo com alguma frequência comunicados de militantes que enaltecem as virtudes do "tunning" e o encaram mesmo como uma arte.
Desde que não me incomodem - o que às vezes acontece-estou como o outro... é mais uma mania. Cara, muito cara, de que não gosto e acho pirosa, mas que alimenta um ramo de negócio considerável...