sexta-feira, 11 de julho de 2008

Manuais escolares - "O petróleo dos editores"

"Todos os seis manuais de Matemática do 9.º ano analisados num estudo divulgado pela Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, do Ministério da Educação, continham entradas de "pouco rigor científico e imprecisões" passíveis de "induzir os alunos em erro". Dois livros tinham "erros matemáticos"."in Diário de Notícias
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Já chega!
Está na hora da educação!
Já estou farto de notícias, reportagens, directos, sondagens, entrevistas e emissões especiais sobre a educação dos nossos filhos e o seu comportamento nas aulas.
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Já chega!
Proponho agora o seguinte:
Notícias, reportagens, directos, sondagens, entrevistas e emissões especiais sobre a educação dos senhores que mandam na educação e que são capazes da falta dela, ano após ano, em matéria que dava para lavrar páginas e páginas de livros ou (como preferem os senhores do choque tecnológico, que não deixam levar computadores para as aulas!) gigas e gigas de bytes.
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Como é possível todos os anos os pais serem açoitados pela mão que, de indicador em riste, determina que todos os manuais escolares têm de ser substituidos por novos.
Os do ano anterior não servem?
"Não senhor! Era o que faltava, querem agora ver?!"
"Todos os anos a matéria é nova. O programa é diferente."
"É o ministério que manda."
Desculpem, digo eu, não será por isso que os alunos cada vez mais percebem menos?
Não será também por isso que, cada vez mais, os alunos se interessam menos pela escola e mais pelos SMS e MSN?
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A quem beneficia este estado das coisas?
Aos alunos e famílias, não certamente.
Aos professores?
Penso que não, tirando os que todos os anos são pagos pelos editores para recompilarem de forma diferente os assuntos que barram as páginas dos manuais.
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Actualmente a compra de manuais escolares no início de cada ano, é uma espécie de imposto que as famílias pagam a uma espécie de organização particular de "exploração social". Qual gang organizado, utilizador de toda a espécie difusa de pressão que sempre prega contra "o actual estado das coisas". Pudera! Assim ganham mais.
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Qual o papel dos pais neste problema?
Nenhum!
Continuam a pagar, ano após ano, sem nada fazerem.
Sem se manifestarem, com bandeiras, faixas, amplificações sonoras, etc, em todas as praças de município - como outras classes profissionais ligadas ao mesmo ramo de actividade.
Chego à conclusão que mal na educação só estarão as discussões sindicais (com os mesmos líderes de sempre) em torno das progressões na carreira, das avaliações de professores, dos comportamentos dos alunos e da gestão dos estabelecimentos de ensino. A eterna ladaínha sindical.
Um rol de prantos que, segundo me convenço, não reflete a verdadeira posição da maior parte dos professores dignos, vocacionados, empenhados e carentes da definitiva confiança política em torno das decisões, que estão prontos a tomar, para, de uma vez por todas, se encarar a educação como verdadeiro propósito nacional.
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Estou mesmo em crer que, à imagem do orçamento rectificativo, deveriamos ter um governo rectificativo só para a educação.
Sem partidos nem sindicatos, mas com pais, alunos, professores, e auxiliares de educação.
Sem editores e sem lobbies, mas com vontade e, acima de tudo, com verdade.
Qual político, pai ou professor, pode hoje afirmar, olhos nos olhos de um filho, sem inquietação da consciência, que a educação que lhes deixa é segura e garante de um futuro firme?
Chega de dizer que os nossos filhos são mais burros que os filhos dos filandeses, suecos, etc.
Chega de vender a retalho a educação deste pais!
Chega de estar sentado no sofá e ver o filme repetido todos os anos ou sempre que muda o ministro.
Chega de nos impingirem manuais diferentes todos os anos!
Chega de nos impingirem políticas diferentes todos os anos!
Chega de nos impingirem "lutas" iguais todos os anos!
Chega!
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Perante isto, penso que a imagem à entrada deste artigo, é demasiado branda e educada.
Será talvez o único dedo que vale a pena erguer ao actual estado das coisas.
Será talvez o único dedo que vale a pena erguer aos responsáveis pela nossa educação, ano após ano, governo após governo.
Esta, afinal, foi a educação que nos deram.

11 comentários:

Anónimo disse...

concordo...é preciso muita lata para os "grandes" compararem os nossos filhos aos "previlegiados" suecos, etc.etc...será que se esqueceram que foram eles que estabeleceram as regras e beneficios a dar aos nossos estudantes? É que não tem comparação...
só tenho uma duvida, apesar de pessoalmente e com os três filhos que tenho, não ter sentido. Não é suposto os manuais escolares serem válidos para três anos? Não me parece...

Victor Cardoso disse...

Pois essa é a grande questão, que penso só se irá falar quando já o ano lectivo estiver em andamento.

Anónimo disse...

Os livros escolares são o petróleo das editoras e o abono de família de alguns professores. Estive "por dentro" do negócio há uns anos, quando algus manuais escolares incluíam publicidade a vários produtos.
Isso aconteceu em França, os livros foram retirados e as editoras sancionadas. Aqui, foram os habituais brandos costumes...

Cristina disse...

Quando andava na escola (antes da faculdade) cheguei a usar livros dos meus primos. O meu início de ano lectivo consistia, não em abrir livros novinhos em folha, mas em apagar apontamentos a lápis. Sou mais burrinha por causa disso? Nem por sombras.

É um abuso o que fazem! Nem quero pensar no que me espera quando tiver filhos!

Um beijinho
(e obrigada pela visita ao meu "Meus Retratos")

NI disse...

Do mal o menos, este ano o teu filho mais novo vai ter os livros de graça. E mais não posso dizer.

:-))

beijos

Victor Cardoso disse...

Carlos e Cristina o que eu acho é que os pais continuam a desenvolver um letargia face a estes problemas.
Ni é verdade, uma acção que que os pais agradecem...mas será porque as eleições vêm aí?

NI disse...

As eleições só são em Outubro de 2009. :-))

cecília disse...

Não concordo com a letargia, Victor. Pelo contrário...Acho até que é a demasiada interferência dos pais (e a cada vez menor dos professores) no sistema educativo, que contribui para o estado das coisas. Mais grave ainda: uma interferência a nível de poderes. Ninguém ocupa o seu devido lugar, todos confundem competências e andam os professores a dar princípios que os alunos já deveriam trazer de casa e os pais a ensinar aos professores como se devem dar aulas. E como isto já acontece há uns anos valentes, os alunos de então, são os professores e pais de agora e alguns deles até são políticos e tudo!!!
Quanto aos sms, mms e msn, enfim...acho que o "dá-me o telemóvel já!!" fez o que tinha a fazer: falou-se muito, imenso, deu pano pra mangas para pesquisas no "youtube" de imagens para as televisões e....ficou tudo rigorosamemte na mesma!!

Victor Cardoso disse...

Cecília não concordo, a maior parte dos pais continua a pensar a escolacomo "um depósito" para os filhos enquanto estão a trabalhar...

cecília disse...

E como não hão-de pensar assim, Victor??

Se lhes foi dado todo o poder para interferir, se foi retirada aos poucos professores verdadeiramente vocacionados para o ensino, toda e qualquer autoridade para exigir competências aos seus alunos??

Se toda e qualquer interferência significativa dos pais apela ao "sentimento", aos "direitos", à "liberdade de expressão" e ao "escândalo com 3 pontos de exclamação!!!", quando um simples tabefe num pirralho asneirento se torna em assunto de discussão nacional sobre "abusos, maus tratos e violência escolar"???

Isto é letargia??

"Depósito"?? Sim, realmente esta é a palavra exacta, já que, como qualquer banco, interessado em manter o cliente, o sistema educativo cria todas as regalias e mais algumas para que os alunos se mantenham nas aulas...os juros, esses, já são outra conversa...

Francisco o Pensador disse...

Olhem..eu só digo que enquanto a Maria de lurdes rodrigues for ministra da educação não tenho qualquer necessidade de comprar livros ou manuais para os meus filhos.
É verdade!...já os adverti que bastava apenas eles terem alguma atenção nas aulas uma vez que agora os exames (fruto da grande necessidade do ME em melhorar a estátistica) são de uma facilidade extremamente infanti....quase para alunos da Creche segundo se consta!

E mesmo que eles corram o risco de ainda assim reprovarem o ano, poderão sempre mais tarde tirar o 9º ano numa semana ou recebê-lo de prenda nos pacotes do SKIP ou ARIEL...