quinta-feira, 10 de julho de 2008

Tou xim!...


- Deixa-te de merdas! Já te disse que não!
É sempre a mesma coisa, se ele se meteu naquilo agora que se “desenmerde”...

- É, é! Se eu soubesse o que sei hoje, nunca tinha “emprenhado”.

- "Rais" parta a rapariga! "C'um catano"! Anda cá Soraia! Ainda ficas debaixo de um carro.

- "...da-se"! Se o gajo quer duas caixas, manda-lhe duas, eles é que pagam...

- Tapete? Qué Tapete?

- Olá D. Florinda! Ainda anda assim? Pois, Deus é que manda.

- Boa, pá! Boa "cumó" milho. Ainda ficaram lá até às quatro da manhã.

- Não posso. Ainda estou aqui à espera. Sim, fica descansado, depois eu ligo-te.

- Olha tou a ficar sem saldo, se for abaixo já sabes.

É impressionante o que se ouve, hoje em dia nas ruas da cidade do Porto.
Pessoas que falam ao telemóvel, numa conversa fantasma, transformada em luta eufórica de palavras, contra o aparelho que teima em não descolar do ouvido.
Já nem olham, já nem reparam no pombo que, do outro lado da rua, se debate com um pedaço de pão, seco pela aragem que corre.
Que saudades do tempo onde nas ruas a gente falava com a outra gente de carne e osso.
Que saudades quando a voz estridente da peixeira rasgava as conversas, anunciando a faneca, ou a sardinha viva ainda a saltar na canastra.

2 comentários:

Anónimo disse...

Também tenho essas saudades, mas o que mais me encanita é ter que ouvir as conversas dos outros e aturar os humores que debitam ao telemóvel. Nãp há pachorra!

Victor Cardoso disse...

Concordo e se a isso juntar os toques horríveis dos aparelhos, temos um retrato completo.