sexta-feira, 5 de março de 2010

Quanto custa a Fé?




Eu sei que são difíceis estes caminhos da religião, e todas as opiniões terão de ser ponderadas antes de encarreirar meia dúzia de caracteres sobre o tema.
Por serem isso mesmo, meia dúzia, não irão, com certeza, abraçar todos os prós e contras do assunto que hoje me proponho deixar à vossa consideração.

Não sei porquê mas tenho a ideia que a próxima visita que o Papa Bento XVI vai fazer a Portugal não será oportuna.
Desde logo Bento XVI não representa a simplicidade, humildade, simpatia, dor, alegria genuína, compreensão, que tinha João Paulo II. Na sua imagem, por mais que seja verdadeiro, o actual Pontífice carrega o peso do Papa Ministro do Sistema Clerical e não do Ministro de Deus junto do povo. O Homem do sofrimento, e da esperança.
É mais um administrador de bens e não um administrador de almas.
Nunca seria fácil suceder a João Paulo II, e admito que a minha ideia possa estar retorcida pela empatia que senti pelo Homem que foi Karol Wojtyla, mais do que pelo cargo que ocupou.
Num tempo de grandes tragédias sempre me pareceu que o Todo Poderoso Vaticano não faz tudo o que poderia e deveria fazer.
Considero que, mais importante que visitas de estado, a Igreja, com todos os meios que tem à sua disposição, poderia e deveria assumir e patrocinar uma intervenção mais abundante junto dos mais necessitados.
Sempre me fez impressão a opulência do Vaticano e da Igreja Católica de um modo geral.

Ratzinger vem a Portugal com uma comitiva de 90 pessoas, e receberá honras estado particulares.
Os meios envolvidos para organizar e publicitar este evento deverão atingir valores significativos. Dinheiro que há-de vir da própria Igreja, de mecenas e naturalmente do Estado.

Será isto compreensível para um português idoso que vê negada uma mão cheia de comparticipações em medicamentos para idosos, que continua a não ter uma refeição digna e uma consulta médica a horas, que, entre muitas outras coisas, apesar da baixa reforma terá de pagar cada vez mais impostos?

Creio bem que sim.
Tal como o euro 2004, a visita do Papa será o folclore que há-de fazer esquecer os dramas do dia-a-dia, nem que seja por um breve par de horas.

Não é só pelos 200 mil euros que custará apenas o palco de Lisboa que vai suportar o peso de Bento XVI e da comitiva na sua visita oficial a Portugal, mas será que é oportuna esta visita?

8 comentários:

Anónimo disse...

Pois de facto já me perguntei a mim mesma, se essa visita será oportuna, a não ser que traga com ele alguns pózinhos de prelim-pim-pim, que venha dar uma nova luz e mais confiança a nós portugueses.

A mim o Papa Bento XVI também não me diz muito, mas Deus que é Deus não agrada a todos!

Quando ao dinheiro que se vai gastar nos palcos de Lisboa e Porto, esse sim poderia ser gasto em muitas outra coisas no nosso país!

E Cristo que é cristo, no tempo dele n teve palcos e sempre no sfez ouvir a sua palavra. Palcos de 200.000 €???

Santa paciência!

CM

Carlota e a Turmalina disse...

Por aqui já passaram alguns papas e vejo que o que muda é a foto estampada nas milhares de medalhinhas e souvenirs que são comercializados por ocasião das visitas.

Anónimo disse...

Ainda por cima, meu caro Victor, a fazer fé nas palavras de uma comerciante iconoclasta de Fátima, "a imagem deste Papa não vende". É só prejuízo!

Maria Letr@ disse...

Pois eu pergunto a mim mesma o que pensariam os católicos praticantes convictos - não aqueles que vestem uma roupa especial para ir ao domingo à missa criticar quem não pode vestir como eles, mas aqueles que acreditam na razão pela qual estão ali - quando soubessem, com precisão, quanto custa ao Vaticano cada deslocação que o Papa faz, onde quer que seja. Mas isso é uma insignificância no quadro geral de despesas e receitas desse império, para não falar dos seus negócios financeiros. Vivi em Itália e fui confrontada com situações escandalosas, inadmissíveis, que deixaram na minha mente uma boa série de pontos de interrogação. Não é porque somos católicos que devemos aceitar toda uma série de escândalos, sem direito a contestá-los, simulando mesmo ignorá-los por respeito a uma religião que seguem como carneiros obedientes a uma doutrina que, a continuar pela via em que segue, correrá grande risco de desagradáveis surpresas. Esta minha - direi - ‘revolta’, nada tem que ver com a minha Fé, seja ela em que fôr. Critico políticas de actuação, não convicções religiosas.
Parabéns pelo seu blogue.

Sarraceno disse...

As religiões, quaisquer que elas sejam, foram criadas pelos interesses dos homens no único sentido de favorecerem o poder instituído.
O primeiro passo foi favorecer a ignorância e o obscurantismo do povo, já de si inculto; suprimindo e recalcando os poucos direitos que até então pudesse ter.
Em nome da nossa religião, considerando a grande maioria católica, os crimes perpetrados por ela foram horrorosos, hediondos, ultrapassando quase o imaginário possível. A história fala e é imutável.
Todos à conhecem e não percamos tempo referindo-a.
A nossa religião, católica; foi sem quaisquer dúvidas razoáveis, a iniciadora e precursora da degradação humana. Em nome dela tudo se fazia com uma cruz numa mão e o crime na outra. Tudo lhe era permitido e sempre esteve acima de quaisquer leis. E de aí para cá pouco mudou; simplesmente de uma maneira mais civilizada e refinada. Mesmo num passado ainda recente, veja-se o que dizia Cerejeira a Salazar. "Se queres ter mão no povo não lhe dês mais que a quarta classe".
Alguém imagina as riquezas, os tesouros que o Vaticano esconde?
Que vem o papa cá fazer? Que benefícios isso traz a um povo sacrificado como o nosso? Salvar-nos a alma? Precisamos é que não nos martirizem o corpo que zelar pelo espírito sabemos nós muito bem.
Ouvi ontem uma notícia em que Bruxelas exigia do Governo Português, retirar até 2020, 450000
portugueses da miséria.
Esses 200000 euros poderiam ser canalizados nesse sentido, acho. É pouco mas sempre seria um começo.
Mas o Sócrates, ou outro Governo na altura, sabe perfeitamente que até 2020, esses 450000 pobres não lhes trarão preocupações de maior, porque até lá bem morrem de fome.
Acredito profundamente em Deus Pai e Criador que me tirou do nada para tudo me dar. Pessoalmente não preciso do papa para nada, nem de quaisquer outros seus designatários. E penso que não estarei sozinho na multidão

O Puma disse...

Cá no bairro só mesmo um papa

para levar o que resta

estouparaaquivirada disse...

Concordo inteiramente com o seu post e gostaria de um dia ver a Igreja muito mais activa e participativa na distribuição da sua riqueza pelos mais pobres.
xx

Victor Cardoso disse...

Pelos vistos nem os deficientes vão poder ter lugar junto do palco Papal. Vão ser "desviados" para um local longe onde poderão assistir à Santíssima Visita pela televisão.