terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Merecemos pessoas assim


Numa época em que nos fartamos de dizer mal de tudo e de todos, gostaria de salientar, hoje, algo de positivo apesar de estar por detrás de uma tragédia.
Falo do naufrágio do pesqueiro “Rosamar” na costa da Galiza que tirou a vida a vários homens do mar portugueses e indonésios.

Entre tamanha tormenta de sentimentos, serve este post, para elevar a minha profunda admiração pelo comportamento do proprietário da embarcação o galego Jesús Lavayén.
Desde o primeiro minuto que respondeu a todas as perguntas dos jornalistas, sem nunca se cobrir por qualquer manto de indelicadeza, prepotência, arrogância e rudeza tão protagonista nos responsáveis, quando colocados perante tamanho e terrível acontecimento.

Vi Jesús Lavayén presente e disponível, desde o primeiro minuto, a chorar a sentir e a garantir, dentro do que é humanamente possível, a minimização da dor provocada aos familiares das vítimas.
Vi Jesús Lavayén responder a todas as perguntas e disposto a todos os esclarecimentos disparados pelos jornalistas.
Nunca se escondeu.

Poderei estar enganado, mas o que absorvi das palavras e das imagens das televisões nacionais e espanholas, ficou-me a simpatia por um homem simples, verdadeiro e com sentimentos. Algo a que não estamos habituados no nosso mundo empresarial, e, especificamente, numa área tão agreste, dura e rude como é a arte do mar.

É um duelo diário que nunca ganharemos.
No mar ficarão os nossos desejos e as nossas verdades.
O mar acabará por engolir a vida e o recheio da alma, sem hesitar, sem nos dizer quando nem porquê.
O mar que é vida, também será sempre a morte.
Ele atrai e repele, num jogo perpétuo da força. É a natureza onde os extremos se tocam.
Choramos hoje o destino, mas amanhã a coragem volta a ganhar força e este mesmo mar, que nos arrancou as lágrimas, nos dará o sorriso, o pão e o amor.
O mar merece homens como Jesús Lavayén.
Nós merecemos mais pessoas assim.

5 comentários:

Patti disse...

Os grandes exemplos, vêm muitas vezes de quem julgamos mais pequenos.

Si disse...

Que à tragédia siga o tempo de recuperar e sarar as mágoas, de preferência com as vozes unidas, num só esforço

1/4 de Fada disse...

As minhas recordações mais antigas estão ligadas ao mar e aos homens do mar. Na minha família é tradição as cinzas serem deitadas ao mar. Esta homenagem é tanto a um homem como ao mar e aos que morrem nele.

Gi disse...

Também tive essa percepção. Não devemos estar enganados; esta cultura, não a costumamos ter por cá.

Anónimo disse...

Também fiquei impessionado quando vi as imagens dele na televisão. Deu-me a sensação que, para ele, a perda daquels vidas teve um impacto idêntico ao de familiares. A solidariedade no mar é, normelmente, muito grande, mas por cá os armadores não costuma ter amesma recção, é bem verdade.